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Oi, meu nome é... Na verdade, não tenho nome. Me lembro de
muitas cosias nesta minha vida. Mas o que mais me marcou foi o meu cantinho
aconchegante. Eu e toda a minha família morávamos atrás dessa casa que agora me
encontro. Minha residência era o pé de cajá, a da minha irmã era o pé de
carambola e o da minha mãe era a mangueira. Nós vivíamos felizes, tínhamos tudo
o que precisávamos ali, tudo. Mas aí, um dia chegaram uns bichos estranhos, nem
ao menos se deram o trabalho de perguntar se as nossas casas estavam a veda,
simplesmente as destruíram. Nós não sabemos como sobrevivemos. Não gostamos das
novas casas que eles fizeram: árvores compridas, sem folhas e sem frutos.
Acabamos nos refugiando na casa da frente, cheia de humanos estranhos, que
sempre que nos enxergam dão comida. Só que a gente fica sem saber se querem nos
conquistar para tomar o que nós temos depois. Pensando bem, o que nós temos
mesmo? Não sei nem se a vida.
Esse pequeno texto narra a história de vida de mais
uma vítima da invasão do homem ao habitat da nossa fauna. Esse exemplar da espécie Callitahix geoffroyi (vulgo:soinho/sagui da cara branca) vivia em
um terreno baldio, atrás da minha casa, e ficou “desabrigado” após a retirada
das árvores que lá se encontravam."
Gabriela Furtado