domingo, 7 de abril de 2013

Depoimento de um desabrigado

"Oi, meu nome é... Na verdade, não tenho nome. Me lembro de muitas cosias nesta minha vida. Mas o que mais me marcou foi o meu cantinho aconchegante. Eu e toda a minha família morávamos atrás dessa casa que agora me encontro. Minha residência era o pé de cajá, a da minha irmã era o pé de carambola e o da minha mãe era a mangueira. Nós vivíamos felizes, tínhamos tudo o que precisávamos ali, tudo. Mas aí, um dia chegaram uns bichos estranhos, nem ao menos se deram o trabalho de perguntar se as nossas casas estavam a veda, simplesmente as destruíram. Nós não sabemos como sobrevivemos. Não gostamos das novas casas que eles fizeram: árvores compridas, sem folhas e sem frutos. Acabamos nos refugiando na casa da frente, cheia de humanos estranhos, que sempre que nos enxergam dão comida. Só que a gente fica sem saber se querem nos conquistar para tomar o que nós temos depois. Pensando bem, o que nós temos mesmo? Não sei nem se a vida.

Esse pequeno texto narra a história de vida de mais uma vítima da invasão do homem ao habitat da nossa fauna. Esse exemplar da espécie Callitahix geoffroyi (vulgo:soinho/sagui da cara branca) vivia em um terreno baldio, atrás da minha casa, e ficou “desabrigado” após a retirada das árvores que lá se encontravam."

Gabriela Furtado